A OpenAI divulgou o seu primeiro relatório “State of Enterprise AI”, revelando que o uso corporativo do ChatGPT cresceu oito vezes desde novembro de 2024. Além disso, o ChatGPT Enterprise já atende mais de 1 milhão de clientes empresariais, com colaboradores relatando economia diária de 40 a 60 minutos de trabalho ao usar a ferramenta.
Esse movimento acontece em um cenário de forte pressão competitiva: o Google aposta no Gemini para ganhar espaço no mercado corporativo, enquanto a Anthropic, com o Claude, também concentra sua receita em clientes empresariais. Ao mesmo tempo, empresas em todo o mundo enfrentam o desafio de provar retorno sobre investimentos em IA, indo além da “fase hype” para resultados concretos.
Para empresas brasileiras, esse salto não é apenas um dado de mercado — é um sinal claro de que a IA generativa está virando infraestrutura básica de negócios, assim como foi a nuvem há alguns anos.
ChatGPT Enterprise consolida liderança no mercado corporativo
Segundo o relatório e comunicados recentes, a OpenAI já ultrapassou a marca de 1 milhão de empresas clientes de suas ofertas corporativas, incluindo ChatGPT Enterprise, Team, Edu e, mais recentemente, ChatGPT for Work.
Esse crescimento é resultado de três fatores principais:
- Base de usuários já educada
Com centenas de milhões de pessoas usando o ChatGPT na versão gratuita, a barreira para adoção dentro das empresas é muito menor. Funcionários já conhecem a ferramenta e pressionam internamente por versões mais seguras e robustas para o trabalho.
- Modelos de contratação B2B mais maduros
Planos como Enterprise, Team e Edu foram desenhados para diferentes perfis de organização — de squads menores até grandes grupos globais — com governança, SSO, logs e administração centralizada.
- Foco em resultados de produtividade
O relatório mostra que trabalhadores indicam ganho médio de 40 a 60 minutos por dia ao usar o ChatGPT em tarefas profissionais, reforçando o argumento de ROI para CIOs, CFOs e líderes de negócios
Concorrência acirrada: Google Gemini e Anthropic
No memorando interno de “alerta vermelho”, Sam Altman chamou atenção para a ameaça competitiva do Gemini, do Google. A disputa não é apenas de tecnologia, mas de:
- Ecossistema (integração com ferramentas como Workspace, Office, Slack, etc.),
- Modelos de precificação,
- Governança e segurança de dados,
- Capacidade de atender setores regulados (finanças, saúde, governo).
A Anthropic também entra forte nesse jogo, especialmente em empresas que valorizam uma abordagem mais conservadora de segurança e alinhamento da IA. No relatório, a OpenAI cita o Índice Ramp AI, indicando que 36% das empresas dos EUA usam ChatGPT Enterprise, contra 14,3% para a Anthropic, evidenciando uma liderança, mas não uma hegemonia tranquila.
Como as empresas estão integrando IA ao dia a dia
Mais do que crescer em número de licenças, a OpenAI destaca que as empresas estão aprofundando a integração da IA em processos críticos.
Um dos dados mais relevantes é o crescimento de 19 vezes no uso de GPTs personalizados, que já representam cerca de 20% das mensagens corporativas.
Esses GPTs funcionam como assistentes sob medida, treinados com:
- Políticas internas,
- Documentos de produto,
- Procedimentos de suporte,
- Bases de conhecimento específicas do negócio.
O exemplo do banco digital BBVA, que já utiliza mais de 4.000 GPTs personalizados, mostra um caminho claro: cada área ou processo pode ter seu próprio “copiloto”, reduzindo retrabalho, padronizando respostas e diminuindo a dependência de consultas manuais a documentos.
Nos estudos divulgados pela OpenAI e parceiros, profissionais relatam economia média de 40 a 60 minutos por dia ao usar ferramentas como ChatGPT para:
- Redigir e revisar e-mails, apresentações e relatórios;
- Resumir documentos extensos;
- Criar rascunhos de códigos, consultas SQL e scripts;
- Traduzir e adaptar conteúdos para diferentes públicos.
Na prática, isso significa 4 a 5 horas por semana por colaborador — um impacto significativo se multiplicado por times inteiros.
O que isso representa para empresas brasileiras
Para muitas empresas no Brasil, o ChatGPT ainda está na fase de:
- Acesso individual na versão gratuita,
- Pequenos testes em times de inovação,
- Uso pontual em marketing ou tecnologia.
Enquanto isso, um recorte relevante das empresas globais está avançando para uso estruturado, governado e mensurável — com contratos corporativos, conectores com repositórios internos de dados e squads dedicados a IA.
Ficar parado nessa fase de experimentação prolongada é, na prática, perder terreno competitivo.
Principais oportunidades para empresas no Brasil
Algumas frentes onde o uso empresarial do ChatGPT pode gerar valor rápido:
- Atendimento ao cliente e SAC
Criação de assistentes híbridos (bot + humano), com roteamento mais inteligente e respostas consistentes com a base de conhecimento da empresa.
- Backoffice e áreas de suporte
Automação de respostas a perguntas recorrentes de colaboradores (RH, TI, jurídico), criação de FAQs inteligentes e aceleração de tarefas administrativas.
- Time financeiro, fiscal e contábil
Suporte na interpretação de documentos, cruzamento de informações e preparação de análises — sempre com revisão humana, especialmente em temas regulatórios e tributários.
- Tecnologia e produto
Apoio na geração e revisão de código, testes, documentação técnica e análise de logs, liberando tempo de desenvolvedores para problemas mais estratégicos.
Próximos passos práticos para sua organização
Para transformar esse cenário em ação, algumas recomendações:
- Comece com um piloto bem definido
Escolha 1–2 áreas com dor clara (ex.: atendimento, backoffice, comercial) e defina metas objetivas: tempo economizado, redução de retrabalho, aumento de satisfação.
- Implemente uma camada mínima de governança
- Defina políticas de uso internas (o que pode ser enviado, como revisar, onde usar).
- Centralize o acesso em contas corporativas, de preferência com SSO.
- Explore GPTs personalizados
Crie assistentes treinados com documentos internos específicos (manuais, políticas, FAQs) e defina casos de uso claros para cada um (ex.: “Suporte Fiscal”, “Onboarding de Novos Colaboradores”).
- Meça e comunique resultados
Compare antes e depois em métricas como tempo médio de resposta, tempo para produzir documentos, número de chamados resolvidos na primeira interação.
- Planeje a evolução para integrações mais profundas
A médio prazo, considere integrar a IA a ferramentas como CRM, ERP, sistemas de tickets, drive de documentos — é aí que o ganho deixa de ser individual e passa a ser sistêmico.
Conclusão: a IA como nova camada de infraestrutura corporativa
O aumento de oito vezes no uso empresarial do ChatGPT não é apenas um marco técnico da OpenAI. É um indicador de que a IA generativa está rapidamente se tornando:
- Parte do dia a dia do trabalho do conhecimento;
- Um dos principais vetores de produtividade;
- Um fator decisivo na competitividade entre empresas.
Para organizações brasileiras, a pergunta já não é mais “vale a pena usar IA?”, mas sim:
“Qual é o plano concreto da minha empresa para incorporar IA de forma segura, escalável e orientada a resultados?”
Quem responder a essa pergunta mais cedo — com estratégia, governança e foco em produtividade real — tende a capturar os maiores ganhos nessa nova fase da transformação digital.





