Se a sua empresa apura pelo Lucro Real e investe em P&D tecnológico, a Lei do Bem pode transformar dispêndios elegíveis em deduções adicionais sobre a base do IRPJ/CSLL. Na prática, isso barateia o custo do P&D e libera caixa para reinvestir em inovação, desde que o mapeamento, a mensuração e as evidências técnicas estejam bem estruturados.
Com um bom enquadramento e documentação, a Lei do Bem reduz o custo efetivo dos projetos e melhora o ROI do seu portfólio de inovação.
Por que, “na prática”, muita empresa deixa dinheiro na mesa
Mesmo com o incentivo disponível, dois erros são recorrentes:
- Classificação incorreta de despesas (confundir manutenção/rotina com P&D).
- Evidências técnicas fracas (lacunas de método, rastreabilidade e resultados).
O efeito é direto: base dedutível menor e benefício aquém do potencial.
Regra de ouro: só é P&D quando há objetivo técnico, incerteza tecnológica, método experimental, equipe envolvida e rastreabilidade de horas/custos.
O que entra como dispêndio de P&D e o que fica de fora
Elegíveis (exemplos):
- Horas da equipe técnica diretamente envolvida (com apontamento formal e rateio).
- Materiais/insumos para protótipos, provas de conceito e testes.
- Serviços de terceiros ligados ao escopo técnico (laboratórios, ensaios, consultorias).
- Softwares e ferramentas instrumentais ao desenvolvimento/experimentação.
- Depreciação proporcional de equipamentos usados no P&D.
Não elegíveis (típicos):
- Rotina operacional ou melhorias sem incerteza tecnológica.
- Implantação comercial de um produto já pronto.
- Marketing, vendas e suporte ao cliente.
- Treinamentos genéricos ou obrigações regulatórias sem caráter de P&D.
Passo a passo do cálculo: com exemplo didático
Cenário ilustrativo (valores hipotéticos):
- Dispêndios elegíveis em P&D no ano: R$ 5.000.000
- Lucro Real antes da Lei do Bem: R$ 20.000.000
- Alíquotas combinadas (ilustrativas): IRPJ 25% + CSLL 9% = 34%
1) Dedução “adicional” (conforme regras/porte/condições): suponha 60% sobre os R$ 5 milhões → R$ 3.000.000 de dedução adicional.
2) Nova base de Lucro Real: R$ 20.000.000 → R$ 17.000.000.
3) Economia tributária estimada: 34% de R$ 3.000.000 = R$ 1.020.000.
4) Efeito no custo do projeto: custo “bruto” R$ 5.000.000 – economia R$ 1.020.000 = R$ 3.980.000 (≈ 20,4% de alívio).
Leitura prática: a Lei do Bem reduz o custo efetivo do P&D. Percentuais variam (e podem ser majorados por mestres/doutores, patentes etc.). Simule cenários conservadores e documente tudo.
Como provar que o projeto é P&D, sem dor de cabeça
- Objetivo técnico claro: problema, hipótese, incerteza tecnológica.
- Plano e método: design de testes, critérios de sucesso, governança.
- Rastreabilidade: apontamento de horas por pessoa/tarefa; vínculo a WBS.
- Evidências vivas: atas, commits, relatórios de sprint, ensaios, falhas e lições.
- Resultados: protótipos/PoCs, TRLs atingidos, especificações novas/melhoradas.
- Relatório técnico final aderente às diretrizes do MCTI (e Portaria vigente).
Checklist rápido: objetivo técnico → método → execução com evidências → resultados → relatório.
Linha do tempo recomendada (ano-calendário)
- Mês 0–1: diagnóstico de elegibilidade + plano de medição de horas/custos.
- Mês 2–10: execução do P&D com evidências contínuas (não deixe para o fim).
- Mês 11–12: consolidação de relatórios técnicos e cruzamentos contábeis.
- Pós-fechamento: submissões/conformidades conforme normas aplicáveis.
Erros que mais reduzem o benefício e como evitar
- Chamar inovação operacional de P&D → defina incerteza técnica e método.
- Apontamentos imprecisos de horas/equipe → sistema, alçadas e trilhas de auditoria.
- Sem nexo entre custo e objetivo técnico → vincule NF/centro de custo a tarefas.
- Relatórios genéricos → escreva para o auditor técnico, detalhe escolhas e evidências.
Lei do Bem na prática: Indicadores para mostrar a economia real ao CFO
- Custo efetivo do P&D = dispêndio elegível – economia fiscal estimada.
- % de alívio = economia fiscal / dispêndio elegível.
- Payback do portfólio: impacto da dedução na curva de caixa.
- Reinvestimento: % do benefício realocado em novos projetos.
Governança que acelera: medir, comparar e reaplicar o benefício amadurece o P&D e fortalece o pipeline de inovação.





