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O texto explica como o Ministério da Fazenda está definindo as alíquotas do Imposto Seletivo dentro da Reforma Tributária, combinando dados de carga tributária atual, elasticidade de demanda, risco de mercado ilícito, evidências da área de saúde e informações dos próprios setores econômicos, com apoio de um simulador de cargas. O conteúdo mostra o que muda para produtos como bebidas, fumígenos, veículos, mineração e apostas, e traz pontos de atenção para profissionais de Tax que precisam mapear exposição ao novo tributo, simular impactos combinados com IBS e CBS e revisar estratégias de precificação e contratos antes da aprovação final do projeto de lei.
Imposto Seletivo

Imposto Seletivo: Fazenda define critérios para alíquotas e aposta em simulador para definir cargas 

O Imposto Seletivo é uma das peças centrais da Reforma Tributária do Consumo e vai incidir sobre bens e serviços considerados prejudiciais à saúde ou ao meio ambiente, como produtos fumígenos, bebidas alcoólicas, bebidas açucaradas, veículos, bens minerais e apostas. 
Enquanto o texto da regulamentação avança em Brasília, o Ministério da Fazenda começou a abrir a caixa de ferramentas usada para calibrar as alíquotas e sinalizou o uso de um simulador de cargas para apoiar as decisões. 

Para quem atua em Tax, entender esses critérios ajuda a antecipar efeitos sobre preço, demanda e risco de migração para o mercado informal, além de orientar análises internas de cenários para clientes ou grupos econômicos expostos a esses setores. 

O que é o Imposto Seletivo dentro da Reforma Tributária

O novo Imposto Seletivo (IS) é um tributo federal de caráter extrafiscal previsto na Emenda Constitucional 132/2023, pensado para substituir a lógica atual de seletividade do IPI e de parte do ICMS. A diferença é que, em vez de olhar para “essencialidade”, o IS passa a focar em bens e serviços com impacto negativo à saúde e ao meio ambiente, reforçando o papel regulatório da tributação. 

Na prática, o Imposto Seletivo vai coexistir com IBS e CBS, incidindo de forma específica sobre uma cesta restrita de produtos, com regras próprias de incidência e sem geração de créditos, o que eleva a atenção necessária ao desenho de preços e margens durante a transição da Reforma Tributária. 

Critérios da Fazenda para definir as alíquotas do Imposto Seletivo

Em audiência pública na Comissão de Finanças e Tributação da Câmara, o diretor de Programas da Secretaria Extraordinária da Reforma Tributária, Rodrigo Orair, detalhou os parâmetros que o Ministério da Fazenda está utilizando para propor as alíquotas do Imposto Seletivo. Segundo ele, a equipe econômica criou um simulador que combina dados de mercado, informações setoriais e evidências da área de saúde. 

De acordo com a Fazenda, os principais critérios considerados são: 

  1. Carga tributária atual dos produtos 
    O ponto de partida é a carga efetiva hoje (IPI, PIS/Cofins, ICMS e contribuições específicas), permitindo comparar o antes e depois da Reforma e calibrar as alíquotas do IS para evitar distorções abruptas no curto prazo. 
  2. Reação do consumo à tributação (elasticidade) 
    A equipe avalia como o consumo responde a variações de preço. Setores com demanda mais sensível à tributação podem ter desenho de alíquotas diferente, justamente para que o Imposto Seletivo cumpra o papel regulatório sem gerar queda excessiva de receita ou migração imediata para produtos substitutos. 
  3. Resposta do mercado ilícito ao aumento da carga 
    Um dos pontos centrais é mensurar o risco de estímulo ao contrabando e à informalidade, principalmente em segmentos como cigarros e bebidas alcoólicas. A lógica é calibrar o imposto para desincentivar o consumo, mas sem abrir espaço para um avanço significativo do mercado ilegal. 
  4. Informações enviadas pelos setores econômicos 
    As contribuições das empresas e entidades setoriais também entram no simulador, com dados de custos, margens, mix de produtos e projeções. A ideia é capturar a visão de quem está na ponta e entender como diferentes cenários de alíquota afetam competitividade, emprego e investimentos. 
  5. Percepções e evidências da área da saúde 
    A Fazenda afirma que leva em conta estudos e recomendações de instituições ligadas à saúde pública, principalmente em relação a consumo abusivo, doenças associadas e custo para o sistema de saúde. Essa camada reforça o caráter extrafiscal do Imposto Seletivo, conectado à agenda de políticas públicas. 

Esse conjunto de variáveis alimenta o simulador e gera cenários alternativos de alíquotas, com impactos projetados em arrecadação, consumo, mercado ilícito e saúde pública, que ainda dependem de aprovação do Congresso Nacional no projeto de lei complementar do IS. 

Como funciona o simulador de cargas usado pela equipe econômica

Embora os detalhes técnicos do simulador não tenham sido divulgados em profundidade, a indicação pública é que o modelo cruza: 

  • dados de carga tributária atual por produto ou categoria; 
  • curvas de demanda para diferentes faixas de preço; 
  • estimativas de migração para o mercado ilícito; 
  • limites e tetos de alíquota previstos na legislação (como o teto de 0,25% para bens minerais e o teto de 2% em discussão para bebidas açucaradas); 
  • objetivos de arrecadação e de redução de consumo definidos pela política pública. 

Ferramentas desse tipo não substituem os debates políticos, mas funcionam como apoio técnico para o desenho das alíquotas do Imposto Seletivo, permitindo testar cenários antes de fechar o texto do projeto de lei e dando maior previsibilidade sobre o impacto em preços e margens. 

Pontos de atenção para profissionais de Tax

Para quem atua em Tax, alguns movimentos já podem ser iniciados, mesmo antes da aprovação final do PL do Imposto Seletivo: 

  • Mapear exposição ao IS na carteira de produtos 
    Identificar NCMs e segmentos com potencial incidência de Imposto Seletivo (bebidas, fumígenos, veículos, mineração, apostas, bebidas açucaradas) e estimar a relevância na receita e na margem da empresa ou do grupo. 
  • Simular impactos combinados de IS, IBS e CBS 
    O Imposto Seletivo será não creditável e incidirá em paralelo aos novos tributos sobre consumo. Simulações internas, com apoio de ERPs, data lakes e ferramentas de cálculo, ajudam a antecipar efeitos de preço final, repasse ao consumidor e pressão sobre margens. 
  • Rever políticas de precificação e contratos 
    Setores sujeitos ao IS provavelmente precisarão revisar estratégias de precificação, políticas comerciais, acordos com distribuidores e contratos de longo prazo, incorporando cláusulas de reajuste ligadas aos novos tributos. 
  • Acompanhar a tramitação do projeto de lei do Imposto Seletivo 
    Como o Ministério da Fazenda ainda trabalha no texto e projeta envio do PL até o fim do ano, ajustes de última hora podem mudar prazos, bases de cálculo e limites de alíquota. 

A definição das alíquotas do Imposto Seletivo pela Fazenda, com apoio de um simulador de cargas, sinaliza uma abordagem mais técnica para equilibrar arrecadação, saúde pública, meio ambiente e combate ao mercado ilícito. Para os profissionais de Tax, acompanhar essa calibragem desde agora, com mapeamento de exposição setorial e simulações internas, é uma forma de chegar à entrada em vigor do IS com menos surpresas e mais capacidade de orientar decisões estratégicas. 

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