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Empresas investem cada vez mais em inovação, mas muitas não capturam todo o retorno possível porque operam projetos de P&D sem processos claros, documentação consistente ou integração entre áreas técnicas, financeiras e fiscais. Essa falta de estrutura gera um custo invisível e recorrente: benefícios fiscais não aproveitados, retrabalho, perda de rastreabilidade e dificuldade em demonstrar que iniciativas inovadoras poderiam reduzir o custo efetivo da operação. Ao organizar portfólio, governança e evidências desde o início, a empresa transforma inovação em investimento com retorno mensurável, ampliando eficiência e competitividade.
Projetos de inovação

Por que tantas empresas perdem dinheiro ao não estruturar seus projetos de inovação?

Muitas empresas acreditam que estão investindo em inovação de forma consistente porque têm times dedicados, projetos em andamento e orçamento anual aprovado, mas uma parte relevante desse investimento se perde quando não existe um mínimo de processo e governança para registrar, qualificar e comprovar cada iniciativa. 

No Brasil, empresas de médio e grande porte investem bilhões por ano em P&D e transformação tecnológica, porém apenas uma parcela desse valor é efetivamente traduzida em incentivos fiscais via mecanismos como a Lei do Bem, depreciação acelerada, incentivos regionais ou linhas de financiamento específicas. Isso significa que investimentos que poderiam ser parcialmente recuperados acabam impactando diretamente o resultado operacional sem qualquer compensação. 

O problema não é apenas tributário: quando a inovação não é tratada como um portfólio estruturado de projetos, a empresa perde visibilidade sobre o que está sendo feito, repete esforços, dispersa recursos entre iniciativas pouco alinhadas ao negócio e reduz a previsibilidade de retorno. 

Onde as empresas perdem dinheiro na prática

  1. Projetos tecnicamente inovadores, mas “invisíveis” para o fisco

Muitas iniciativas tecnológicas nascem dentro das áreas de negócio ou de TI e seguem até a entrega sem nenhuma preocupação com enquadramento fiscal. Falta uma etapa formal de classificação: o que é manutenção evolutiva, o que é adaptação e o que realmente caracteriza um projeto de Pesquisa, Desenvolvimento ou Inovação passível de benefício. 

Sem essa classificação, a empresa: 

  • Deixa de registrar corretamente horas de equipe, gastos com terceiros e aquisição de equipamentos ligados à inovação. 
  • Não consegue comprovar, a posteriori, que aquele projeto gerou ganho tecnológico, risco técnico ou desenvolvimento original. 
  • Perde a oportunidade de transformar custos recorrentes em base para incentivo fiscal. 

Ou seja, o projeto até gera resultado para o negócio, mas não gera eficiência tributária porque não foi tratado como projeto de inovação desde o início. 

  1. Falta de rastreabilidade: sem evidência, não há benefício

Benefícios fiscais de inovação exigem documentação. Não basta afirmar que um projeto foi inovador; é necessário demonstrar etapas, riscos, testes, hipóteses e resultados. Quando a empresa não possui um processo mínimo de governança, surgem problemas como: 

  • Documentação dispersa em e-mails e planilhas pessoais. 
  • Ausência de atas de reuniões técnicas, relatórios de teste ou registros de versões. 
  • Desalinhamento entre o que a área técnica faz e o que a área fiscal declara. 

Essa falta de rastreabilidade faz com que o time tributário, com receio de autuações, opte por não enquadrar diversos projetos que poderiam ser beneficiados. Na prática, a empresa se autocensura e abre mão de economias relevantes por não se sentir segura quanto às comprovações. 

  1. Desconexão entre inovação, finanças e tributos

Outro ponto de perda está na falta de integração entre quem cria soluções (inovação, P&D, TI, engenharia) e quem cuida de resultado (finanças, controladoria, fiscal). Quando essas áreas trabalham de forma isolada: 

  • Projetos são aprovisionados apenas como custo, sem avaliação do potencial de redução de carga tributária. 
  • O orçamento de inovação não considera o “efeito líquido” após incentivos. 
  • Decisões de priorização de projetos são tomadas sem olhar para o impacto fiscal positivo que alguns deles poderiam trazer. 

Uma governança simples, com rotinas de alinhamento entre essas áreas, já permite selecionar melhor os projetos e maximizar o retorno de cada real investido em inovação. 

  1. Risco de autuações que anulam o benefício

A ausência de processo leva também ao outro extremo: empresas que tentam aproveitar incentivos sem estrutura. Sem critérios claros de elegibilidade, sem documentação adequada e sem acompanhamento técnico, cresce o risco de: 

  • Enquadrar projetos que não se sustentam perante uma fiscalização. 
  • Gerar inconsistências entre o que foi contabilizado, o que foi declarado e o que realmente foi realizado. 
  • Ter benefícios questionados e eventualmente glosados, com multa e juros. 

Nesse cenário, a empresa não só deixa de capturar o benefício como ainda pode ter que devolver valores e lidar com contingências fiscais, o que gera aversão futura ao uso de incentivos. 

O “custo invisível” da falta de processos

Quando olhamos para a soma desses fatores, fica claro que o maior prejuízo não aparece em uma única linha do DRE, mas se espalha em diferentes pontos: 

  • Incentivos fiscais não aproveitados, apesar de existir base técnica para isso. 
  • Projetos redundantes ou com pouco alinhamento estratégico recebendo recursos que poderiam ser direcionados a iniciativas com maior impacto e benefício fiscal associado. 
  • Tempo de especialistas gasto em retrabalho de documentação, correção de dados e reuniões para tentar reconstruir o histórico de projetos antigos. 
  • Oportunidades perdidas de financiar inovação com recursos mais baratos, por falta de visibilidade sobre o portfólio de iniciativas. 

Esse conjunto de ineficiências representa um custo real, recorrente e muitas vezes não mensurado pelas empresas. 

Como a estruturação de projetos de inovação muda o jogo

A boa notícia é que a solução não depende de grandes mudanças organizacionais, mas de uma abordagem mais estruturada para a gestão da inovação. Alguns elementos-chave: 

  1. Governança mínima de portfólio
  • Definir fluxos claros para registro dos projetos desde a concepção. 
  • Criar critérios objetivos de elegibilidade para enquadramento em benefícios fiscais. 
  • Manter um repositório único de informações técnicas e econômicas dos projetos. 
  1. Linguagem comum entre técnico e fiscal
  • Traduzir a realidade dos projetos em termos compreensíveis para a área tributária. 
  • Estruturar relatórios que conectem resultados técnicos a impactos financeiros e fiscais. 
  • Envolver o fiscal e o financeiro desde o planejamento das iniciativas mais relevantes. 
  1. Processos de documentação desde o início
  • Incluir, no próprio método de desenvolvimento (ágil ou tradicional), etapas que gerem evidências de inovação: hipóteses, testes, protótipos, avaliações de risco tecnológico. 
  • Padronizar templates de relatórios, atas e registros técnicos. 
  • Garantir que essa documentação seja feita em tempo real, e não apenas retroativamente. 
  1. Monitoramento contínuo dos benefícios
  • Acompanhar, projeto a projeto, o potencial de benefício fiscal e o que de fato está sendo capturado. 
  • Utilizar dashboards e indicadores para demonstrar o retorno dos investimentos em inovação, considerando também o efeito tributário. 
  • Usar esses dados para sustentar decisões de aumento de orçamento, priorização de iniciativas e escolha de tecnologias. 

Por que esse tema importa para CTOs, COOs e CFOs

A falta de estrutura na gestão da inovação não é apenas um assunto técnico ou contábil; trata-se de uma questão de competitividade. Empresas que organizam seus projetos, conectam tecnologia e tributos e documentam adequadamente suas iniciativas de P&D conseguem: 

  • Reduzir o custo efetivo de inovar por meio de benefícios fiscais. 
  • Reinvestir a economia em novos projetos, fortalecendo o ciclo de inovação. 
  • Demonstrar para conselho, diretoria e acionistas que a inovação contribui não apenas com novos produtos, mas também com eficiência financeira. 

Enquanto isso, empresas que continuam tratando a inovação de forma fragmentada, sem processo e sem governança, seguirão investindo valores significativos sem capturar todo o retorno possível, deixando dinheiro na mesa. 

Se sua organização já investe em tecnologia e desenvolvimento, mas ainda não trata esses projetos de forma estruturada, o próximo passo não é aumentar o orçamento, e sim olhar com mais atenção para como esses investimentos são organizados, registrados e conectados aos benefícios fiscais disponíveis. É nesse ponto que muitas empresas descobrem que a inovação poderia ser não apenas mais estratégica, mas também muito mais eficiente do ponto de vista financeiro. 

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