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A Reforma Tributária redesenha operações e cadeias de suprimentos ao introduzir a tributação no destino, ampliar o crédito financeiro e reduzir distorções entre setores e estados. Esses movimentos afetam a localização de centros de distribuição, a relação com fornecedores, a formação de preços e a estrutura logística, ao mesmo tempo em que exigem revisão de contratos, atualização de sistemas e maior integração entre áreas fiscais, operacionais e tecnológicas. Para se adaptar, as empresas precisam mapear sua cadeia, simular cenários logísticos e reorganizar processos internos para atuar com mais eficiência durante a transição e no novo modelo tributário.
Como a Reforma Tributária redesenha as operações

Como a Reforma Tributária redesenha as operações e a cadeia de suprimentos das empresas 

A Reforma Tributária aprovada no Brasil, com a Emenda Constitucional 132/2023, começa a mudar de forma estruturada a forma como as empresas organizam operações, centros de distribuição, compras, contratos e investimentos ao longo da cadeia de suprimentos. A unificação de tributos sobre o consumo, o foco no destino e a promessa de simplificação reduzem distorções históricas, mas exigem revisão de modelos logísticos, sistemas e estratégias de precificação. 

A seguir, veja os principais impactos na operação e na cadeia de suprimentos e por que empresas de diferentes portes precisam começar a se preparar. 

Contexto da Reforma Tributária e principais mudanças

A Reforma Tributária sobre o consumo prevê a substituição de diversos tributos (ICMS, ISS, PIS, Cofins e IPI em grande parte das operações) por dois novos impostos: 

  • IBS (Imposto sobre Bens e Serviços): de competência de estados e municípios 
  • CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços): de competência federal 

Entre os pontos estruturais que afetam diretamente a cadeia de suprimentos estão: 

  • Tributação no destino: o imposto passa a ser devido onde o consumo ocorre, não mais onde a empresa está instalada. 
  • Crédito financeiro amplo: a tendência é ampliar o direito a créditos, reduzindo cumulatividade e distorções entre insumos e produtos. 
  • Tributo mais uniforme entre setores: diminui a dispersão de alíquotas entre estados e serviços, afetando a competitividade relativa de cadeias diferentes. 
  • Transição escalonada: haverá período de convivência entre o sistema atual e o novo, o que gera complexidade temporária, mas abre espaço para planejamento. 

Como a Reforma Tributária impacta a cadeia de suprimentos

  1. Redesenho de centros de distribuição e malha logística

Muitas empresas estruturaram seus centros de distribuição considerando benefícios fiscais de ICMS e regimes especiais. Com a migração para a tributação no destino, a lógica de localização tende a se deslocar de incentivo fiscal para custo logístico, proximidade do cliente e nível de serviço. 

Pontos de atenção: 

  • Reavaliação de rede de CDs, hubs e armazéns com foco em lead time, custo de transporte e demanda regional. 
  • Revisão de estratégias de concentração de estoques em poucos estados, já que o ganho fiscal com essa centralização tende a diminuir. 
  • Potencial aumento da relevância de soluções omnichannel e modelos como dark stores, principalmente para comércio eletrônico e varejo. 
  1. Relação com fornecedores e formação de preços

A mudança na lógica de créditos e débito de tributos ao longo da cadeia impacta a forma como empresas negociam com fornecedores e definem preços para clientes: 

  • Necessidade de ajustar contratos de fornecimento que hoje consideram guerra fiscal ou benefícios regionais. 
  • Maior transparência na composição de preços, com impacto em margens, repasse de tributos e negociação de prazos. 
  • Avaliação da cadeia estendida (fornecedores de fornecedores) para entender como a nova tributação afeta custos indiretos. 

Empresas que possuem forte dependência de determinados insumos ou de cadeias longas devem mapear o efeito tributário em cada elo para evitar surpresas em custos e disponibilidade. 

  1. Impactos em operações industriais e de serviços

Para a indústria, a expectativa é de redução da cumulatividade, o que tende a beneficiar cadeias mais longas e intensivas em insumos. Para serviços, o impacto pode ser diferente, com potenciais aumentos de carga em alguns segmentos e redução em outros, dependendo da alíquota final e de regimes específicos. 

Na prática, isso pode significar: 

  • Reavaliação de make or buy (produzir internamente ou terceirizar), considerando o novo desenho de créditos. 
  • Revisão de estruturas societárias e de contratos de prestação de serviços compartilhados (como centros de serviços, logística integrada e outsourcing). 
  • Análise de margens por produto, linha e canal, levando em conta a nova tributação ao longo da cadeia. 
  1. Governança de dados, tecnologia e compliance

A simplificação prometida pela Reforma não elimina a necessidade de controle detalhado. Pelo contrário, a transição exigirá: 

  • Atualização de sistemas ERP, módulos fiscais e soluções de gestão de estoques para lidar com o novo modelo e com o período de convivência entre regras antigas e novas. 
  • Fortalecimento da governança tributária, integrando áreas fiscal, financeira, logística, compras e vendas. 
  • Monitoramento de regulamentações complementares (leis ordinárias, normas estaduais e municipais) que vão detalhar regimes específicos, exceções e tratamentos setoriais. 

Empresas com cadeia de suprimentos complexa e múltiplas filiais precisarão garantir padronização de cadastros, classificação de produtos e integração de informações para tomar decisões rápidas e embasadas. 

O que as empresas podem fazer agora

Mesmo com uma implementação gradual, quem atua com planejamento de operações e cadeia de suprimentos já pode iniciar alguns movimentos: 

  1. Mapear a cadeia de ponta a ponta 
    Identificar onde estão fornecedores, plantas, CDs, clientes e canais de venda, relacionando volumes, margens e riscos fiscais. 
  1. Simular cenários de malha logística 
    Testar alternativas de localização de centros de distribuição, rotas principais, níveis de estoque e níveis de serviço com base no princípio do destino. 
  1. Rever contratos comerciais e cláusulas de tributos 
    Incluir mecanismos de ajuste de preços e responsabilidades tributárias ao longo do período de transição. 
  1. Investir em tecnologia e integração de dados 
    Garantir que sistemas consigam operar com diferentes regimes durante a transição, com visão consolidada de tributos, custos e rentabilidade por operação. 
  1. Criar um comitê interno de Reforma Tributária 
    Envolver áreas de Fiscal, Finanças, Supply Chain, Jurídico, Comercial e TI para acompanhar regulamentações, avaliar impactos e priorizar ações. 

Oportunidade de reorganizar a cadeia com visão estratégica

A Reforma Tributária tende a reduzir distorções e complexidades do sistema atual, mas o impacto não será uniforme entre setores, regiões e modelos de negócio. Empresas que tratarem a mudança apenas como um ajuste fiscal correm o risco de perder competitividade em custos, prazos e nível de serviço. 

Ao encarar a Reforma como uma oportunidade de reorganizar operações, redesenhar a cadeia de suprimentos e modernizar sistemas de gestão, as organizações podem sair da transição com uma estrutura mais eficiente, transparente e preparada para crescer em um ambiente tributário mais previsível. 

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