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A maior parte das instituições financeiras ainda não avaliou de forma estruturada os impactos da reforma tributária em seus produtos, margens e processos internos, mesmo com um cenário em que 72% das empresas de médio e grande porte no Brasil ainda não se consideram preparadas para a transição, segundo levantamento da V360 em 2025. Para as áreas de tax, isso significa conviver com riscos maiores de erros na formação de preços, aumento de exposição a autuações, impactos em fluxo de caixa e pressão adicional de reguladores como Banco Central, CVM e SUSEP. Antecipar essa agenda com mapeamento de produtos críticos, revisão de cadastros e parametrizações fiscais, construção de cenários de impacto em resultado e envolvimento de TI e controladoria é um passo essencial para fortalecer a governança tributária e dar mais segurança às decisões do setor financeiro diante da reforma.
reforma tributária para o setor financeiro

Reforma Tributária para o setor financeiro: maioria ainda não avaliou os impactos

A reforma tributária altera a lógica de incidência e apuração dos tributos sobre consumo, com efeitos diretos na forma como instituições financeiras calculam preços, margens e indicadores de resultado. Esse movimento atinge o trabalho diário das áreas de tax, tesouraria, contabilidade, controladoria e risco, em um contexto já marcado por forte pressão regulatória e prazos apertados de compliance fiscal. 

Levantamento recente realizado pela empresa de tecnologia V360 com 355 empresas de médio e grande porte, de setores como varejo, indústria, agronegócio, construção e tecnologia, mostrou que cerca de 72% ainda não se consideram preparadas para a transição para o novo sistema de tributação sobre consumo. Esse dado indica que a maior parte das organizações está atrasada na agenda de adaptação, e o setor financeiro tende a reproduzir esse cenário, mesmo lidando com produtos complexos, grande volume transacional e múltiplos pontos de contato com reguladores. 

Por que o setor financeiro ainda não avançou na avaliação de impactos

Nas conversas entre profissionais de tax, controladoria e finanças, alguns fatores ajudam a explicar por que a avaliação dos impactos da reforma tributária no setor financeiro ainda não ganhou a prioridade necessária: 

  • Pressão das rotinas de compliance fiscal e regulatório 
    Times de tax seguem absorvendo entregas mensais de obrigações acessórias, fechamentos contábeis, exigências de auditoria e demandas de órgãos como Banco Central (BCB), CVM e SUSEP. Sem um patrocínio claro da alta gestão, a pauta da reforma tributária permanece em segundo plano. 
  • Dúvidas sobre o enquadramento de produtos e serviços financeiros 
    Há incertezas sobre como diferentes receitas serão tratadas no novo modelo de tributação: tarifas bancárias, pacotes de serviços, operações de crédito, serviços de investimento, custódia, seguros, meios de pagamento e produtos estruturados. Isso dificulta a construção de cenários confiáveis de carga tributária efetiva. 
  • Dependência de sistemas legados e integrações complexas 
    Motores fiscais, ERPs, plataformas de crédito, sistemas de cartões, core bancário e data warehouses carregam regras parametrizadas ao longo de anos. Qualquer ajuste nas regras de apuração de tributos exige desenho cuidadoso de integrações, testes e validação, o que leva muitas instituições a adiar a discussão para evitar impacto em operações críticas. 
  • Ausência de um projeto formal de governança tributária para a reforma 
    Em várias casas, o tema ainda não está estruturado como projeto com comitê, cronograma, responsáveis e indicadores. Fica pulverizado entre tax, jurídico, TI, produto e operações, dificultando priorização de recursos e tomada de decisão. 

Riscos de não avaliar os impactos da reforma tributária a tempo

Adiar a avaliação estruturada dos impactos da reforma tributária no setor financeiro gera riscos que vão além da leitura estrita da legislação. Para quem atua em tax, alguns pontos merecem atenção: 

  • Erro na formação de preços e margens de produtos financeiros 
    Sem cenários atualizados, a instituição pode precificar tarifas, pacotes de serviços, seguros, produtos de investimento e operações de crédito com base em uma estimativa de carga tributária desatualizada. Isso pode compressar margens, comprometer o retorno sobre capital ou distorcer o posicionamento competitivo em determinados segmentos. 
  • Aumento do risco de não conformidade (non-compliance) 
    Alterações em base de cálculo, alíquotas e momentos de incidência exigem ajustes finos nos cálculos, na escrituração e nas obrigações acessórias. Falhas de parametrização em motores fiscais e sistemas de backoffice aumentam a probabilidade de divergências, autuações e necessidade de retrabalho, com impacto direto em provisões e reporte aos órgãos reguladores. 
  • Impactos em fluxo de caixa e gestão de créditos tributários 
    A lógica de créditos e débitos no novo modelo influencia o momento em que tributos são recolhidos e compensados. Para instituições financeiras, qualquer descasamento entre o reconhecimento contábil, o recolhimento efetivo e a recuperação de créditos afeta a liquidez e a gestão de caixa, especialmente em carteiras de grande volume. 
  • Risco reputacional e de relacionamento com clientes 
    Divergências em valores de tributos embutidos em tarifas, serviços e produtos podem ser questionadas por clientes corporativos e de varejo. Além do aspecto regulatório, isso tem efeito em NPS, churn, renegociações contratuais e, em casos mais extremos, disputas judiciais. 
  • Dificuldade em explicar os efeitos ao conselho e à alta administração 
    Sem uma visão consolidada dos impactos da reforma tributária em resultado, margem e risco, a área de tax perde capacidade de discutir o tema com o conselho de administração, comitê de auditoria e diretoria financeira em linguagem de negócio. 

Papel da tecnologia e da automação fiscal na adaptação

A discussão sobre reforma tributária no setor financeiro também é uma discussão sobre tecnologia. A área de tax precisa atuar de forma integrada com TI, riscos e produto para: 

  • Atualizar parâmetros de motores fiscais e regras de cálculo, garantindo trilhas de auditoria claras. 
  • Usar automação fiscal e robôs para testar cenários, validar cálculos e reduzir a carga operacional de conferência manual. 
  • Criar um ambiente de testes (sandbox) em que novas regras de tributação possam ser simuladas e auditadas sem impactar as operações em produção. 
  • Integrar dados de apuração, créditos e débitos tributários a data warehouses e camadas de BI, permitindo que tax converse com a gestão em termos de margem, retorno e risco. 

Por onde a área de tax pode começar

Mesmo em instituições que ainda não estruturaram um grande programa de reforma tributária, a área de tax pode iniciar movimentos concretos: 

  1. Mapear produtos e serviços prioritários 
    Identificar os produtos que concentram maior receita, margem ou complexidade tributária e priorizar esses itens nas primeiras simulações de impacto. 
  1. Revisar cadastros, códigos fiscais e fluxos de apuração 
    Verificar consistência de cadastros, códigos, regras de apuração em motores fiscais e integrações com sistemas de negócio é um passo essencial para que qualquer simulação reflita de fato a operação. 
  1. Construir cenários de impacto em margem e resultado 
    Trabalhar junto com controladoria, FP&A e risco para traduzir os impactos tributários em indicadores usados pelo comitê executivo: margem líquida, retorno sobre capital, custo de servir clientes em diferentes segmentos e produtos. 
  1. Envolver tecnologia, produto e jurídico desde o início 
    Transformar a reforma tributária em pauta multidisciplinar, com participação efetiva de TI, jurídico regulatório, times de produto e operações, reduz a chance de retrabalho e acelera a implementação. 
  1. Estruturar um framework de governança tributária para a reforma 
    Criar um comitê ou grupo de trabalho formal, com patrocínio de figuras como CFO, CRO e Head de Tax, definindo agenda, entregáveis e critérios de decisão, ajuda a dar ritmo e visibilidade ao tema. 

 

Antecipar a avaliação dos impactos da reforma tributária no setor financeiro fortalece a governança tributária, protege margens e melhora a capacidade da instituição de dialogar com reguladores, clientes e investidores. Um primeiro passo prático pode ser selecionar alguns produtos-chave, reunir tax, TI e controladoria e rodar simulações de carga tributária no cenário da reforma, abrindo caminho para decisões mais seguras sobre precificação, sistemas e contratos. 

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