Por Fabrizio Gammino, Co-CEO da Gröwnt
Confira a entrevista do Co-CEO da Gröwnt para a Times Brasil
Em 2024, a Indústria Brasileira cresceu 3,1%, um número que, à primeira vista, parece positivo. No entanto, ao olhar mais de perto, percebo que o cenário é muito mais complexo do que esses números iniciais indicam. Estamos falando de um contexto em que a Selic pode atingir 15% em 2025, e um cenário global cada vez mais protecionista e volátil. A provocação que apresento aqui é: nossa Indústria realmente está pronta para os desafios e transformações que se avizinham?
Esse crescimento modesto, combinado a um cenário econômico doméstico e global cheio de incertezas, exige uma análise crítica sobre o real desempenho da nossa Indústria. Neste artigo, quero compartilhar, com base em dados concretos, sobre o que está funcionando e onde ainda vemos enormes lacunas que precisam ser preenchidas, caso queiramos garantir a competitividade no longo prazo.
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O que os números não contam
Ao analisar profundamente os dados financeiros de 59 empresas de diferentes setores, vejo um panorama desigual. O EBITDA médio da Indústria Brasileira é de 16%, mas é importante destacar que essa média é impulsionada por grandes players como Suzano, Ambev, JBS e Weg. Se retirarmos essas empresas do cálculo, o EBITDA médio das demais fica bem abaixo de R$ 1 bilhão. Isso me leva a questionar: estamos realmente gerando valor de maneira consistente, ou a Indústria depende de poucos gigantes para manter uma aparência de crescimento?
Além disso, quando olho para o lucro líquido ajustado pela depreciação e amortização, noto que apenas algumas empresas estão conseguindo rentabilidade superior à Selic. Empresas como Jalles Machado, São Martinho e Grendene estão em um patamar superior, mas elas são exceções. A realidade para a maioria é uma luta constante para equilibrar as contas, o que me leva a uma reflexão: a rentabilidade da Indústria é realmente sustentável?
Como a tesouraria está sustentando o crescimento
A análise do desempenho operacional é um ponto crítico. Uma grande parte do EBITDA da Indústria Brasileira — cerca de 32% — está sendo comprometida pelo pagamento de dívidas. Em um cenário de juros elevados, isso é preocupante. Muitas empresas dependem de sua tesouraria para garantir o equilíbrio financeiro, mas isso é uma solução temporária. Não vejo como essa dependência possa ser uma estratégia viável a longo prazo.
Algumas poucas empresas, como Grendene e Dexxos, têm conseguido gerar lucros financeiros suficientes para neutralizar os custos com suas dívidas. Mas essas são exceções. Para a maior parte das empresas, o cenário é mais desafiador, e a pressão dos juros altos está corroendo o desempenho operacional. Se a Indústria não reduzir essa dependência de dívidas caras, a sustentabilidade financeira estará em risco.
A inovação é o diferencial
Se há um ponto que considero não apenas importante, mas essencial para o futuro da Indústria Brasileira, é a inovação. Não me refiro apenas ao lançamento de novos produtos, mas à transformação dos processos internos, da ampliação de infraestrutura, ao aumento da eficiência operacional e à busca incessante por soluções que realmente criem valor. Se as empresas não investirem em inovação, o futuro será ainda mais desafiador.
Empresas como Weg, Embraer e Hypera já perceberam que inovação é o caminho para a competitividade para o futuro. Elas estão investindo fortemente em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) e aproveitando incentivos como a Lei do Bem para garantir que a inovação seja uma constante. Porém, vejo poucas empresas seguindo esse exemplo. Sem uma estratégia de inovação, a Indústria Brasileira corre o risco de se tornar um mercado saturado, onde a competição é baseada apenas em preço e não em valor agregado.
As empresas líderes em competitividade
Ao observar o desempenho das empresas em 2024, destaco Weg, Grendene e Romi S.A como as líderes. Elas estão conseguindo não apenas gerar lucro, mas também desenvolver soluções inovadoras que sustentam seu crescimento a longo prazo. Essas empresas conseguem equilibrar a geração de riqueza, a gestão de dívidas, a taxa de juros e, principalmente, o investimento contínuo em inovação.
Por outro lado, empresas como JBS, Marfrig e Companhia Siderúrgica Nacional continuam com uma alta carga de dívidas e margens de lucro baixas. Sem uma transformação estrutural, essas empresas ficarão para trás, perdendo terreno para as que estão mais preparadas para os desafios do futuro.
A Indústria Brasileira precisa mudar o jogo
A minha conclusão é simples: a Indústria Brasileira precisa se transformar agora, ou ficará para trás. Não podemos depender apenas dos grandes players para sustentar o crescimento. Se não agirmos para reduzir dívidas caras, investir em inovação e melhorar nossa eficiência operacional, o futuro será incerto. A mudança é urgente — ou seremos ultrapassados por um cenário global que já está avançando.